NOTÍCIA


Melhoramento genético dos peixes

Melhoramento genético dos peixes
28 de Fevereiro de 2023
Voltar

A tecnologia sempre fez parte da piscicultura, ainda mais com o seu crescimento no Brasil. O melhoramento genético de peixes faz parte desses avanços, que pretendem implementar melhorias ao setor, para que este se torne mais moderno e competitivo.


Essa busca por aperfeiçoamentos gera impactos tanto no mercado nacional, quanto no mercado internacional. O melhoramento genético é uma das áreas que vem se destacando e ganhando maior atenção do setor.


Com estudo e investimento nessa tecnologia, a genética pode colocar a piscicultura em um patamar mais elevado, assim como ocorreu na suinocultura e na avicultura, por exemplo.2


Mesmo assim, esse recurso ainda está longe de chegar ao uso comum dos criadores de peixes, principalmente em propriedades rurais. Por isso, separamos alguns tópicos que destacam a importância do melhoramento genético na piscicultura.


 


O que é o melhoramento genético na piscicultura e quais seus benefícios?



Basicamente, o melhoramento genético na piscicultura é o processo de aprimoramento da formação de peixes, para que se obtenha maior capacidade de produção. Esse processo ocorre a partir da seleção de características genéticas que melhoram o desempenho dos animais aquáticos.


Conforme o engenheiro agrônomo e empresário do ramo de melhoramento genético em peixes no Brasil, Ricardo Neukirchner, o processo é muito importante para a evolução da produtividade e dos lucros do produtor.


Em entrevista ao jornal O Presente Rural, o especialista compara com o setor da avicultura e o melhoramento genético em frangos, algo ocorrido há anos. “Os ganhos genéticos vão ser obtidos muito mais rapidamente, uma vez que as tecnologias estão dominadas e o grau de informação é muito maior”, revela.


Ele ainda destaca diversos benefícios que a tecnologia pode trazer para a piscicultura, como:



  • produzir peixes com melhor desempenho zootécnico;

  • reduzir o consumo de ração;

  • ampliar o rendimento de filé;

  • aumentar a resistência a doenças.


Além disso, a genética também pode contribuir para que a população brasileira consuma ainda mais peixes. Isto ocorre porque a tecnologia também pode fazer com que o preço se torne mais atrativo para o consumidor. Ou seja, com o aumento do ganho em cada produto, ocorre a redução dos custos de produção.


Também em entrevista ao jornal O Presente Rural, o doutor em Ciências Ambientais e pesquisador de piscicultura, Aldi Feiden, comenta outras vantagens do melhoramento genético na piscicultura.



  • ganho de peso por tempo de cultivo;

  • melhoria na conversão alimentar;

  • homogeneidade dos lotes;

  • maior rendimento da carcaça;

  • melhoramento no acúmulo de gordura.


Ou seja, com o cruzamento de diversas linhagens genéticas, o melhoramento é capaz de desenvolver peixes que tenham melhor desempenho das características que são desejadas em peixes mais produtivos. 


Assim, é fundamental que o produtor busque genética de qualidade para a sua produção. Para os especialistas, sem a genética não é possível buscar o potencial máximo de produção, resultando em prejuízos enormes e, em muitos casos, inviabilizando a atividade.


 


 


O cenário da melhoria genética do Brasil


 


O trabalho com a genética na piscicultura é algo que ocorre há alguns anos no Brasil, mesmo que de forma diferente do melhoramento propriamente dito. Desde a década de 1970 é realizada a importação de linhagens de peixes melhoradas no Brasil. 


Conforme Feiden, esse processo foi financiado por órgãos governamentais, como a importação de várias linhagens de tilápia e carpas no Nordeste do país, para aumentar a pesca nos açudes daquela região.


Este processo também foi aplicado no Paraná, durante os anos 1980. Nesse momento, foram introduzidas várias linhagens de tilápias e de carpas pelo Centro de Piscicultura de Toledo, no Oeste do Estado. Tudo isso ocorreu com o objetivo de fomentar a criação de peixes em viveiros escavados, algo que aconteceu com bastante sucesso.


Em outros momentos da piscicultura brasileira também foram importados peixes com linhagem melhorada, como é o caso da tilápia nilótica da Tailândia e também da Malásia. Com o passar dos anos, foi observado o melhoramento por mais de 15 gerações de um grupo com 60 famílias, focando o ganho de peso dos animais, revela o doutor Feiden


Atualmente, o cenário da melhoria genética no Brasil era focado apenas no crescimento. Com o passar dos anos, esse processo passou a buscar atender as necessidades da indústria e dos produtores. 


Além disso, também procura promover o maior bem-estar das espécies, afinal a tilapicultura corresponde a 63,5% da produção brasileira de peixes de cultivo.


No Tocantins, foi inaugurado recentemente um Centro de Reprodução e Melhoramento Genético de Tilápia, o que representa uma procura maior pelos avanços tecnológicos na produção. 


Conforme o presidente da Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR), Francisco Medeiros, o investimento realizado na ordem de R$ 28 milhões cria uma expectativa de que o Tocantins ocupe o posto de capital mundial da tilápia nos próximos anos.


O local foi escolhido com base nas condições climáticas, da existência de fontes de água de qualidade e do apoio de diversas instituições estaduais e municipais. O aporte financeiro foi realizado pela Genomar Genetics e deve atender toda a demanda brasileira e da América Latina.


De acordo com o engenheiro agrônomo, Ricardo Neukirchner, os resultados do melhoramento genético da tilápia no Brasil são evidentes. Essa espécie de peixe é a mais cultivada do Brasil, algo que foi conquistado com o melhoramento genético, que colocou a produtividade acima de todos os outros anos.


Além da tilápia, na última década existiram outros estudos e processos de melhoria genética no Brasil. Conduzido pela Embrapa, com parceria de várias instituições públicas e privadas, um programa de melhoramento genético foi elaborado para quatro espécies aquícolas de importância econômica no Brasil:



  • três de peixes – a tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus), o surubim cachara (Pseudoplatystoma reticulatum) e o tambaqui (Colossoma macropomum);

  • uma de crustáceos – o camarão-branco (Litopenaeus vannamei).


Mesmo com diversos estudos e programas de melhoria implementados e evidentes resultados positivos, o processo de iniciar novos projetos ainda apresenta grandes dificuldades. 


Um dos principais problemas é o alto custo de implantação e manutenção de um programa por várias gerações. De acordo com Neukirchner, os investimentos são muito altos e pela baixa demanda, inviabilizam o projeto para que seja feito pelo produtor rural individualmente.


 


 


Como fazer o melhoramento genético de alevinos?



Para os dois especialistas, Ricardo Neukirchner e Aldi Feiden, os programas de melhoramento genético precisam ser realizados por grandes grupos, já que o investimento é muito elevado. 


Mesmo que seja algo inviável para os produtores de produção familiar, eles possuem um papel muito importante nas pesquisas e na execução desses programas.


Nesse sentido, para que os programas de melhoramento genético possam dar certo, é necessário que se tenha planejamento inicial e a condução por um longo período. 


Assim, é possível que seja ainda maior o número de gerações sucessivas, pois em cada dá para ter ganhos superiores a 15% em relação ao ganho de peso, como foi observado no melhoramento da tilápia.


O produtor é necessário para a validação dos resultados a campo, avaliando cada etapa de melhoramento e discutindo com os técnicos quais os rumos a seguir. 


No caso da tilapicultura, deve-se ter a participação do setor industrial no processo de avaliação dos resultados. Assim, quanto maior for o desempenho produtivo, melhor será o rendimento industrial do pescado.


Com esse sucesso, entre parcerias de indústrias e grandes investidores, é possível auxiliar no direcionamento do programa e a financiar esses programas de melhoramento genético


Os pesquisadores apontam como exemplo o setor de rações para peixes, onde o processamento de rações feito pelas indústrias contribui para a melhoria da qualidade do produto final disponibilizado ao setor aquícola nos últimos anos.


Para os especialistas, o setor ainda está em grande expansão e não consegue produzir o suficiente para atender a toda a demanda regional e nacional. 


Por isso, com os resultados positivos já encontrados anteriormente, é necessário que se busque maior investimento e avanços no melhoramento genético na piscicultura brasileira.



Compartilhe